Apanhado geral da trip

PELO MUNDO DE BIKE- algumas palavras do que foi esta viagem de 11 meses por vários países e culturas.


Ubatuba novembro 1998

Um ano depois , lembranças e algumas histórias

Eu já voltei de viagem a quase um ano. Logo quando cheguei, fiquei meio perdido e tentando me adaptar a vida cotidiana que eu deixara de praticar por quase um ano. Na minha cabeça, mil idéias, sentimentos e muita informação. Pretendia fazer mil coisas que estão se realizando só agora.

A vida cigana tem suas magias. Você muda de paisagem, amigos e de vida muitas vezes e se acostuma com isto. As vezes fica triste porque sua vida em um determinado lugar estava tão boa que você quer estar mais tempo. Porque não ficar então? porque você é um cigano - e também seu visto passagem está chegando na data limite. Ai você pega a estrada novamente.

Quando cheguei na Nova Zelândia, até o ar parecia diferente. Nunca tinha saído da América do Sul, e aí cheguei se no primeiro mundo. Tem que se falar outra língua que você mal conhece. Mas até que me virei bem. Rodei de bike por mais de três meses. Encontrei muitos amigos antigos e fiz novas amizades. Fiz várias caminhadas que eu sonhava a tempos. Dormi só com meu saco de dormir no topo das montanhas, rodeado por picos nevados e vales abaixo de mim. Assisti a memoráveis finais de dia. Rodei e pedalei muito. Me encontrei com Kenny, velho amigo que já esteve até aqui na minha casa. Ele viaja de bike a 17 anos, tem uma gentileza de um monge tibetano. Um amigo bem especial ele.

Na Austrália, passei vários dias pedalando sozinho. Atravessando florestas de eucalipto em um destes dia, quando procurava um canto para armar a barraca em uma vila, algumas crianças pararam de brincar e começaram a correr atrás de mim. Me fizeram mil perguntas, e me chamavam de o ‘viajante’. Fiquei feliz com o carinho que me deram. Em Melborne e Sydney fui parado na rua por simpatizantes que viram que eu estava viajando. Me deram estadia. Sempre rolava um jantar onde eu ia conhecer um pouco mais destas pessoas de bom coração e eu falar de mim, do Brasil. Quando eu lembrava do Brasil, a saudade as vezes batia.

Austrália é um pais alegre, amigo, quente e enorme. Convivi com pessoas vivendo uma vida que parecia um sonho, mas era a realidade deles. Moravam em comunidades (600 ao redor de Byron Bay), reciclando lixo e materiais de construção, fazendo música, arte, lutando pelo pouco verde que tinham, plantando florestas em pastos estéreis. Lá tive a oportunidade conhecer a Permacultura, técnica para se viver em harmonia com a natureza e, com o auxílio dela, produzir alimento, energia e uma vida auto-sustentável, com mínimo impacto no meio ambiente. Por causa disto, muita coisa mudou em meu ser. Agora reciclo todo meu lixo e faço campanha para meus amigos fazerem o mesmo. Tenho trabalhado com materiais reciclados em meus projetos de arquitetura. Chamo agora o que faço de Arquitetura Alternativa. Utilizo o máximo de materiais que tem no próprio local da obra. Uso energia alternativa, madeira de reflorestamento ....tudo para minimizar o impacto de uma obra no meio ambiente.Estou trabalhando em um projeto chamado Amazonas Help, um abaixo assinado virtual que pretendo colocar na rede em breve.

Atravessei a Austrália quase de ponta a ponta: fiz 10.000km e isto até que não é muito. Encontrei várias pessoas que fizeram o dobro desta distância. Conheci alguns aborígenes, povo dos mais antigos do mundo. São 40 mil anos de cultura passada oralmente até os dias de hoje.

Comprei um carro com mais 4 amigos brasileiros. Pintamos um grande serpente-arco-íris nas laterais. Vivi neste carro por um mês. Ele era minha casa. Cozinhávamos no capô. Era uma pequena comunidade dentro do carro cruzando um enorme deserto para ir conhecer a pedra sagrada dos aborígenes no coração da Austrália. Foram dias inesquecíveis. Antes do deserto, corremos ao longo do litoral. Mergulhamos na Grande Barreira de Coral. Ter estado muito tempo no deserto comecei a perceber que o lugar mais verde que já estive chama-se Brasil. Tenho plantado arvores ao redor da minha casa e muitas arvores frutíferas em meu sítio, onde pretendo colocar em prática os conhecimentos da Permacultura.

Na Indonésia ví como a religião é importante para as pessoas. Ví muita pobreza, igual ao Brasil, mas não violência como aqui. Ele agradecem todos os dias tudo que tem e oferecem aos Deuses alimentos e orações. Lá é o reino das ondas perfeitas. Uluwatu, ondas enormes em praia com 70 cm de profundidade! Passei dias preguiçosos na beira do mar, surfei um pouco mas ví que tinha que ter mais experiência senão sentiria na pele.

Reencontrei meus amigos da Austrália. Conheci ilhas em que a coisa mais alta eram os coqueiros.

No Nepal fiz a caminhada que sempre sonhei. Ví o Everest de perto, a montanha sagrada do Himalaia e a mais alta do mundo. Caminhei por 18 dias pelas trilhas da região de Kumbum. Atravessei passos e tive a sorte de estar com um companheiro que tinha mais experiência em alta montanha do que eu. Conheci os sherpas e sua dura vida nestas montanhas. Passei por cidades medievais. Lá vi gente vivendo em épocas diferentes: pessoas com vestimentas e vida de 200 anos atrás. Tem que ir lá para entender isto. Katmandu, cidade com minaretes e templos por todos os lados, um trânsito infernal de gente, bike, cachorro, vaca e carros.

Me tornei mais espiritual na viagem. Medito quase todos os dias. Procuro estar em paz, fazer bem para as pessoas. Tento parar o mundo interno e me sentir e situar. Os habitantes dos grandes centros não tem tempo para nada, nem para eles. Se você é uma destas pessoas, pare de ler agora mesmo e vá para um canto tranqüilo da sua casa. Respire fundo e acalme seu coração. Tente não pensar no que tem que fazer. Escute seu ser, fique em silencio por alguns minutos e aí pense o que é bom para você, o que te dá alegria e se pergunte se esta fazendo algo a respeito.

Foram dias mágicos e únicos e o melhor é que eu sabia disto. Aproveitei o que pude. Agora estou eu aqui tentando passar para vocês um pouco de tudo que foi este momento mágico em minha vida. Penso em ter outros mais com certeza. Meus dias de viajante não chegaram ao fim. Tenho uma lista de lugares ainda por experimentar. Todo mundo tem um sonho: siga o seu sonho também. Trabalhe em cima dele e um dia ele vai se realizar. Os sonhos existem para um dia se tornarem realidade.

Minha próxima grande trip será ir para o Canada e voltar para cá de bike, carro, barco ou a pé. Mas antes vou conhecer um lugar dos mais incríveis no mundo, a Amazônia.

Nesta página tem muitas das minhas experiências, espero que goste dos meus relatos, fotos e informações, e que isto faça despertar uma vontade de você correr atras do que te faz feliz. Para mim é viajar, e pretendo continuar nesta minha vida cigana por vários anos ainda.

Obrigado pelo carinho que todos me deram ao longo da minha viagem. Lí , mas não pude responder a todos os email que me mandaram. Me fizeram feliz, é muito bom receber carinho, mesmo by email.

Quero agradecer a TECEPE, que muito me ajudou e ajuda até hoje na manutenção e atualização deste homepage, ao webmaster que me deu a maior força, a Lonely Planet que me deu guias de viagem e a todos vocês que acompanharam e me deram boas energias.

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Marcelo Bueno

ecovila@pratica.com.br